quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Quem comer saberá!




Tem coisas que não me interessam de onde saíram, mas me alegram muito quando se põem no prato, tudo muito simples: o salmão que é curado com açúcar e sal grosso e uns temperinhos, o suco de cenoura que vira um caramelo depois de umas horas no fogo, e, depois vira um molho doce/salgado; o abacate rtiturado com sal e alho, e umas gotinhas de limão; os brotos de cebola; o alho francês cortado finíssimo e frito muito devagar, as ovas de lumpo pela cor; e o fantático e imbatível parceiro desse salmão,o "Doritos Tex Tex"!!!!!

segunda-feira, 16 de março de 2009

Como seria se não nascesse gente?

“Eu quero fazer uma coisa que tenha a ver com as raízes!” Acho que foi isso que ela disse, mas não tenho certeza. “A costela com chocolate é minha!” Tem um cara lá no restaurante que, quando começo a ensaiar alguma coisa, e vou falando as minhas ivaneações sobre `a coisa`, diz “minha boca já está a salivar”.
Esses dias contava a um outro sujeito do restaurante, um toco de gente, mas que nos faz maravilhas lá dentro, um tipo daqueles que lava, corta, cozinha e samba… bom contava a ele que minha mãe não gostava das comidas que eu fazia, e isso sempre me incomodou um bocado. Lembro de ela me contar que uma patrocinadora tinha ligado prá combinar uma entrega de tomate seco, há anos atrás essa moça, que era uma quarentona linda que eu paquerava, já fazia tomate seco com azeite numa cooperativa em Curitiba, moça de peito. E dona Cármen(minha mãe) disse algo assim da fala da moça “ a senhora deve comer coisas muito diferentes e boas, não?!” Minha mãe deve ter ficado numa saia justa danada porque não comia quase nada das minhas coisas, mas também não achou louco de estranho o bendito mignon como molho de jaboticaba…
O sorriso da Gi sempre que fala da massa com cogumelos e raspa de limão, a Aline que me chamou de filho da puta depois de descobrir que a calda do sorvete de rosas que ela comia era salgada. O Maurício que deixou um almoço ´na faixa´no Boulevard e foi pró meu primeiro almoço em público, feito num restaurante, isso já deve ter uns 9 anos,acho. Ele veio de uma reunião, eu no meu das panelas fazendo o bobo de camarão, e o Maus me dá uma garrafa de vinho branco me desejando “sorte na nova empreitada”. Foi na agência/casa do Maurício que aconteceram memoráveis churrascos, uma festa de ostras que um amigo nosso, um advogado de esquerda xiita que não lembro o nome, viabilizou porque recebeu como parte de pagamento 50 dúzias de ostras, imagina a farra que não foi?! A carinha da tia Geralda olhando prá um makisushi que eu tinha feito e dizendo “parece o desenho de um copinho de sorvete la dentro”.
Lai, Lai Helena, lady Lai, a moça que é a prova mais real de que eu já tomei ácido e não me lembro!! Sempre tive a certeza de tê-la conhecido num vídeo clube, nisso nós dois concordamos. Mas sempre tive a certeza de que ela usava uma meia calça preta grossa com desenhos muito coloridos…. Isso só eu vi, porque ela sempre disse que nunca teve uma meia assim, deve ter sido o ácido depois de ter saído do Mercadorama do Champagnat. Lai é o desenho de companheira, a menina dos exageros, do génio forte, tem um pai que é `muito`, alguém já devia saber disso quando colocaram o nome em criança, Magnus. Lai é um capítulo ou todo um livro a parte, acho que minha maior experiência de compreensões e de coisas feitas de verdade, muita coisa não teria acontecido se não fosse essa menina. Na minha vida de cozinha, não consigo imaginar outra pessoa com quem eu tenha concretizado tantas coisas tão significativas. Ela é a moça que finalizava de sabor os meus molhos, quando eu não gostava de ficar experimentando as minhas coisas molhadas.
Claro que esse passeio todo tem o seu porquê. A frase lá do título é um pedaço de música do Karnak, que alegra e inspira, mesmo que não exista mais. O mercado municipal de Curitiba, está todo limpo, reorganizado, espaços renovados. O Bretxa em San Sebastian é bonito, mercado de beira mar, peixe fresco, ao lado de cinemas. A Boqueria nas Ramblas… e por aí pode-se seguir listando lugares de comidas de todo lado. Mas destes que falei acima, não o que seria prá mim do mercado de Curitiba, sem o sanduíche de mortadela e rúcula do Maia Box, do Mauro e da Maia e suas gentilezas sempre!! O Bretxa e Boqueria sem as mulheres que limpam peixe prá mim não seriam o mesmo, em San Sebastian acho que são lindas, quase sempre maquiadas, e em Barcelona, mais idosas, mais personificadas, como que mais envolvidas naquele ambiente!
Ver produtos, conhecer lugares novos, ter outros referenciais, novos novos, tudo muito interessante, mas os produtos são veículos de expressão. São as pessoas que fazem as coisas, a história, a estória, o peixe limpo, o legume fresco, o sorriso depois da segunda garfada, são elas que dão o movimento, o desejo de se re-fazer algo.
A ´salada prá La´i, o ´Má de manga´, as farras de comida com Maurício, o sair mais cedo da cadeira e ir cozinhar com a Vilma lá na agência (isso tem quase dez anos); o limão num risoto prá Luísa, o molho de banana que só ela conhece… é uma espécie de histocidade que essas pessoas conferem ao que faço, ao que ponho no prato. E se com frequência penso por onde andar prá encontrar a ´batida perfeito´, esse caminhar vai nesse e naquele sentido/direção, com quem ando e andei, aqui e acolá:
Lai, Renée(ele estava na primeira vez que fiz carne vermelha num restaurante), Renato, que comeu o doce com calda de alho, Esmeralda e o doce de tomate crú, Hugolau e a boca que saliva com sorriso largo, Luísa e o chocolate e os cremes (felicidade é simples, tenho aprendido com ela), a Gi que não larga o osso e troca comigo, João Acuio, porque gosto muito dele e pronto, Renata e o salmão que não era gravalax, Joana que comeu o que nunca mais se repetiu, o risoto de queijo da serra, rúcula e a vontade de impressionar o coração, a cara de menino do Miguel, Sonia e o aniversário, a meninice da Inês que acredita…… “são pessoas que cantam e dançam, põem a perna e a voz lááááááááááá´”.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Lilás e Dalila

Definitivamente é muito bom estar com gente que gostamos por perto, e no que me toca estou adorando não ter mais saudades do Nuno, o `sujeito` que está numa foto lá em cima, algures!!!
Esse rapaz tem sabores de lembranças e coisas que não me importo nada em localizar, e nem saber onde se pode comprar mais, ou em que pé que nasce, porque acho que e um que amizades bacanas devem nascer quase que prontas numa árvore muito frondosa, daquelas que poderiam ser parecidas com o flamboyad da casa da tia Sílvia ou magrinha e delicada como a cerejeira japonesa, ou ainda, uma goiabeira, de goiaba vermelha claro.
Ando feliz por não ter mais saudades dele há uns dois meses, trabalhamos juntos, não dividimos a bancada, dividimos duas, as vezes três numa coisa de encontros e piadas, de um começar algo e o outro terminar, de gentilezas… numa boa, numa série de predicados bons. Esse é o primeiro sabor de marca desse passeio, de reencontro de amigos, que talvez nem saibam como são ou se tornaram, ou `sei lá, entende? Mas que estão ali quase todos os dias experienciando a experiência de dessa coisa pragmática e concreta e cheirosa e com gorduras…que é cozinhar, com wok, óleo, molho de ostra, manga.
O segundo e mais saboroso, como criança que deixa a melhor parte do doce pro final, é ver o Nuno com os pés fora do chão, pedindo `sapatinho de chumbo`, suspirando, cantando música meio brega,, rindo à toa. Mas amar é isso, é ser piegas, ficar perdido, querer encontrar, as vezes querer transformar em algo concreto e visível, palpável esse sentimento tão abstrato e tão visceral, lembra da barriga gelada, do coração acelerado? Já me peguei esses dias olhando prá ele, Nuno e lembrando de mim uns tantos anos atrás, mas como diz a turma do Karnak `o mundo muda, a gente muda...` continuo sentindo, só que de maneiras diferentes, mas como isso aqui não é prá mim, vamos retomar o rumo da prosa.
E esse e sabor tem nome endereço, mora numa ilha cercada de água por todos os lados, terra cheia de altos e baixos, praias de rocha, calor na costa, neve nos topos das montanhas, com uma diferença de meia hora de carro talvez. Não a conheço, mas como diz o ditado, `a felicidade de meu amigo, é a minha felicidade`, já estou louco de contente pela existência dessa moça que gosta de lilás, e verde e poder tocar de alguma forma essa avalanche de sentimentos, esse terreomoto afetuoso que está invadindo a cozinha onde estou, o Hugo, outro colega do restaurante chegou a dizer que Nuno seria como que um `gigante sereno`, pela tranquilidade e participação que tem no serviço, e agora, ver esse `gigante`, com sapatinhos de plumas e sorriso de adolescente na cara de manhã e de noite, me dá mais um gosto e gozo: quem não tem coisas das mais variadas dentro do peito? Quem não pode demonstrar e ser aceito?

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Praga é jóia, peste!!!!

A Primavera de Praga foi o que foi em 1968, envolta num ambiente de busca de liberdades. A primavera em Praga, dizem ser linda! Mas esses dias por lá foram “simplesmente” muito bacanas, “simplesmente”lindos de tempo fechado e pouco sol, “simplesmente” quentes de emoções pessoais afetivas. Tudo muito simples, tudo muito legal!!

Chegamos, Luísa e eu, com a temperatura a -11º, segundona, pouco depois do almoço, ficaríamos até a próxima sexta-feira. Como a intenção aqui é ser bem curto, é o seguinte. A cidade em uma arquitetura muito lindinha na parte vellha, tem a turma do chocolate quente (que falado em curitibano fica bem engraçado), que as vezes não são os mesmos do vinho quente, as panquecas de batata que podem acompanhar os mesmos vendedores dali de trás…
Mas o grande barato prá mim foi voltar a comer salsicha com pão e mostarda de luva, por causa do frio, tomar uma cerveja louca de forte de 24º GL chamada Primator, nocauteadora! Essa cerveja é uma delícia de corpo e sabor na boca, pela força daria prá tomar naqueles copinhos de shot, ou num copo tipo vinho do porto. O vinho branco, companheiro de sempre num bar todo pequenino, perto da Casa da Música, com um papo à toa com um canadense engraçado, também caiu muito bem. Acho que essas foram as experiências gastronómicas mais fortes de sorrisos que tive por lá, mas…..
Ver, ouvir na sala do Rudolfinum, a Filamônica Checa tocando o Pássaro de Fogo, daquele senhor narigudo e competente, Igor Stravinsky, foi de matar de bom!!!!! Chegamos meio em cima da hora, deu tempo prá uma taça de champagne, por sorte o Pássaro era só na segunda parte, e no intervalo ainda rolaram mais dois copitos.
Quando começou o concerto ficar completemente absurdado com as cordas, “simplesmente” magníficas, como conjunto, de cores, os sopros não ficavam atrás, mas as cordas…E esse foi o melhor prato dos últimos tempos, como seria bom comer algo com tanto sabor, tão rico, tão único e `tão tão, entende?` Comida tem cor, tem movimento, tem ritmo, tem sons; e definitivamente, prá mim, que só compreendo um pouco melhor música, das manifestações artísticas, música tem sabor, tem cheiro, tem o ponto de cozedura, tem os molhos todos que envolvem aquelas combinações de ingredientes tão pequenos que são as notas (que poderiam ser as `notas` dos vinhos). Esse Stravinsky de quinta passada, foi a mistura mais bem misturada do sanduba de mortadela e rúcola do Maia Box, da manga do primeiro ano da escola, da salada de língua da Dona Cármen, de jaca madura, da surpresa de ir voltando a sentir coisas “simplesmente” boas, de novo.